Há 5 anos atrás entrei em Psicologia, sabia que não era aquilo que queria, sabia que para além de não o querer, que aquilo era algo que era completamente o oposto de mim...mas sinceramente, se não fosse isso era outra coisa qualquer, fosse Inglês, fosse Direito, sempre soube que só me encaixava num sítio, na arte. Estou a breves momentos de me licenciar, e sei que não vou exercer, ponho essa hipótese em último lugar (o lugar do desespero quando tudo o resto falhar, epá preciso de comer, certo?). E porque é que escolhi este caminho então? É certo que ninguém me obrigou, não posso afirmar isso, mas é certo também que não me deixaram fazer mais nada.
Quando me matriculei no 10º ano sabia que queria escolher artes, queria-o tanto tanto...Só de pensar que ia para a escola e não só podia desenhar nas aulas como também era avaliada por isso...até me arrepiei toda, então eu agora vou pra escola e posso fazer o que faço quando tenho um tempinho livre??Queres melhor negócio? Só na worten. Disse aos meus pais que queria inscrever-me no agrupamento de artes porque queria ser estilista, queria estudar design de moda, e aí é que a casa foi a baixo. Só não me chamaram de filha e deu para perceber onde tudo aquilo ia dar, pois foram muito directos, "se vais para artes porque estás com ideias de ir estudar moda, podes tirar o cavalinho da chuva. Sai de casa e sustenta-te sozinha, se quiseres direito ou medicina, conta connosco, mas artes, nem penses." Como diz a Dida: "é bem".
Não gostei do secundário, as disciplinas não me entusiasmaram por aí além apesar das minhas notas até poderem ser consideradas de boas, acho que o facto de não poder sair a lado nenhum ajudava razoavelmente, havia mais tempo para estudar. Consegui tolerar o secundário porque tivemos teatro, mais especificamente, Oficina de Expressão Dramática, e foi desse pequeno mundo e nas pessoas espectaculares que conheci e que ainda hoje adoro, que consegui sugar toda a minha força. Guardo memórias espetaculares desses tempos, que sao hoje tão vivas como foram reais naquelas horas, muito obrigado.
Cheguei ao 12º e durante os três anos passados, tentei não pensar muito no que ia fazer nessa hora quando ela chegasse, mas quando tive que escolher os cursos, foi provavelmente um dos momentos mais tristes da minha vida. Apercebi-me que tinha chegado a hora, tinha que fazer qualquer coisa, mas não queria fazer nada... só queria AQUILO. Imaginam a sensação de ter que pôr por ordem de preferência coisas que não gostam e ter k eleger uma como a favorita? Vejamos, rato morto com ketchup para o jantar -1º, a minha própria mão grelhada-2º...Lamber os pés malcheirosos do meu vizinho-3º. E ainda ter que ter boas notas? Enguli foi um grande sapo... Foi o apogeu! Mentira, o apogeu foi quando "me foi comunicado" que TINHA que ficar em faro, pois não existia uma dose suficiente de confiança na minha pessoa para que eu pudesse disfutar da oportunidade de ir estudar para fora, pois poderia meter-me na heroína ou na prostituição, enfim, essas coisas próprias da idade (lol). Andei aqui enfiada 5 anos da minha vida, estudei por uma vida e sinceramente tenho livros em casa que já nem me lembro de ter lido (dezenas e dezenas, que dinheiro mais mal gasto), mas que as sublinhações extensas, separadores, apontamentos, rascunhos, não me deixam cair em engano: LI-OS.
O que tirei disto tudo para além de saber todas as partes do cérebro humano em latim? Amigos excepcionais e muitas lições de vida, valiosas e indispensáveis, mas que sinceramente poderiam ter sido aprendidas de outra forma. Consegui superar esta bosta de curso graças a quatro pessoas muito especiais que nunca deixaram de puxar por mim, que me tiraram lá do fundo das várias vezes que bati nele, aturaram-me nos meus melhores e piores dias, sempre com muito carinho. Não precisa dizer, há coisas que se sentem à flor da pele, pelas acções...pelos sorrisos, pelas palavras, sei que gostam de mim, obrigada por isso! Obrigada Ruth, Raquel Ana e Cátia.
Deprimi muitas vezes, chorei muitas vezes, gritei demais, praguejei demais, fiz muita merda a mim mesma, tentei sair de casa algumas vezes, mas isso foram árvores que não deram fruto...Por vezes tratei os outros injustamente pela raiva que sentia de tudo isto, a essas pessoas, sabem elas quem são, peço desculpa pelas imensas preocupações que vos dei. Nunca fui uma pessoa forte e as coisas batem-me com facilidade, vou abaixo com facilidade, ou pelo menos ia. Mas gosto de quem sou hoje, e estes anos fizeram de mim quem sou hoje. Podia ter sido feito de outra maneira, mas foi assim, seja destino ou não, aceito o que sou agora, aceito o que me espera, de braços bem abertos. Não me importo que pensem que sou maluca, os malucos também são gente, e já lá vai o tempo em que me preocupava com o que achavam de mim, não gostam vão comprar a outro lado.
Sonhei com isto muitos anos. Pintei os meus sonhos dezenas de vezes, desenhei os meus sonhos dezenas de vezes, vendi sonhos, comprei sonhos e nunca os deixei esmorecer. Porra quero mesmo isto,com todas as minhas forças e com toda a paixão que isto merece! Esperei tantos anos e o que mais temia não aconteceu, não perdi a força, não perdi aquela vontade esmagadora de criar, tenho 23 anos e estou a começar de novo, a minha vida começa agora, e agora, quem manda nela sou eu.
Hoje fui ver a nota do exame de Desenho-A que fiz dia 16, desde dia 16 que não durmo decentemente, acordava a meio da noite, não conseguia adormecer, andava constantemente nervosa e sobressaltada o que é sempre positivo quando se começa um emprego novo, especialmente num café-bar (coisinha leve). Correu-me mal, muito mal. Fiz o exame como aluna externa e era a mais velha da turma, no meio daquela maré de putos, senti-me mais deslocada que nunca. Mesmo sob os olhares desconfiados daquelas pessoas, senti que não devia nada a ninguem, "posso não pertencer aqui, mas isto é só um ponto de passagem, calma" - pensei eu. E funcionou. Mas outras coisas me assombraram nas semanas antes do exame, e nesse dia, nessas 3 horas. Estas pessoas tiveram três anos disto, aulas, testes, professores a ajudar e a corrigir e eu nunca tive aulas, nunca me ensinaram nada, que raio faço eu aqui? Aprendi sozinha, faço as coisas de instinto, de alma, mas quem me diz que o que sei está certo? Nada. Há medida que desenhava e os exercícios iam passando, olhava para os estiradores ao lado, e pra minha surpresa, o que via não só não era nada de especial, como nem sequer era bom. Pensei cá pra mim "what da fuck?"...
Como sou uma pessoa informada, liguei para a Direcção Regional de Educação do Algarve para tentar saber tudo sobre o exame, a senhora foi super prestável e simpática, mas mentiu-me. Basicamente disse-me que o exame era igual a outro que existe (Materiais e Técnicas de Expressão Plástica), mas só com outro nome, então, prestei-me a resolver todos os exames de anos anteriores dessa disciplina. Chego ao exame, de mochila apetrechada de aguarelas, pastéis, carvões, lápis de cor, ceras e tudo k se possa imaginar, como me foi indicado, mas não só nao usei metade como também o exame não tinha nada a ver com o que a senhora me tinha dito, e nesse momento pensei pra mim: lixei-me. Fiz aquela merda de mãos a tremer, sufocada na quase impossibilidade de traçar uma linha direita, naquela corrida contra o tempo de desenhar tanto em tão pouco tempo. Podia jurar que ia chumbar, andei a informar-me sobre os recursos ao exame, pensei no que ia fazer com a minha vida e hoje tive a maior surpresa de sempre. Um 15. E náo só, era a segunda melhor nota da pauta, no meio daquela sopa de notas baixíssimas.
Verifiquei várias vezes e mal conseguia ler o meu nome. Assustei as funcionárias quando comecei a chorar aos saltos no meio da sala de convivio da minha antiga escola. Disseram-me: "calma menina, pró ano tentas de novo", devem ter pensado que era louca quando repeti umas 10 vezes "não acredito que passei, tive 15, estou tão feliz!"
Finalmente senti que valho alguma coisa, porque se fiz aquilo mal e porcamente, imagino se tivesse tido mais meia hora de exame. É estúpido precisar de aprovação alheia pra saber se o que faço é bom ou não, mas nestas cenas das artes, sou muito pouco confiante.
Em outubro devo ir para a covilhã, que graças às fantásticas médias baixíssimas dos anos anteriores, me vão permitir quase de certeza, deslizar graciosamente para os meandros daquele bloco de moda. Estava tranquila se tivesse 9.5, mas com este 15 e a bela media do secundário, os 12.5 do ultimo classificado não me assustam =)
Já tenho parte dos 1000 euros de propinas e espero tê-los até outubro, ando a trabalhar para isso, mas vou ter que me sustentar sozinha, sem ajuda de ninguem e ainda tou pra ver se consigo arranjar emprego compatível com as aulas...a ver vamos.
Acumulei coisinhas ao longo deste ano, pois prometi a mim mesma que não iria desistir, que ia concorrer mal acabasse o curso. Tenho caixotes com talheres, toalhas, até facas do pão e canecas, comprei tudo com amor e esforço e tudo ao meu gosto. É giro ver os meus gostos projectados em coisas da casa, pois nunca pude mexer em nada aki em casa. Vou sair daki e sinto-me melhor do que nunca, sinto-me livre finalmente, já não devo nada aos meus pais, fiz-lhes a vontade.
This is a new day, this is my conquest
p.s. desculpem o tamanho disto, mas também ninguem deve ler, por isso...lol... k se lixe
pL.