12/06/07

A Pantera cor-de-rosa e o gato pelado

Riscos e Rabiscos
Por vezes é difícil para algumas pessoas, a compreensão da mensagem subjacente a certos estilos de arte, não obstante da mesma estar de acordo ou não com um estilo pessoal preferencial. Para muitas pessoas, grafitti ou stencil não é arte, pois para mim tambem não o é, a partir do momento em que a imagem criada não atinge certos padrões de qualidade que me façam sentir que de facto, tal imagem envolve alguma técnica por ou algum significado. Mas não só. Certamente não é necessário dar muito à manivela aos nossos modestos cérebros para compreendermos que existem diferenças significativas entre um tag (assinatura personalizada de um determinado artista) feito numa parede de uma estação de correios ou de um jardim de infância, e um stencil alusivo à necessidade de mais apoio social e económico para com as camadas mais desfavorecidas da nossa sociedade.
A questão é que grande parte das imagens que são vistas nas paredes, muros e ruelas das nossas cidades, muitas das vezes não passam de meros "gatafunhos e rabiscos", no verdadeiro sentido da palavra. Infelizmente, existem ainda muitos pseudo-artistas que pensam que uma mochila de latas de tinta e um punhado de emoções revoltadas contra os pais ou a escola, fazem dele um artista digno de expor nas "melhores paredes" das nossas cidades.
Muitas pessoas associam os gangs aos grafittis e aos tags, o tal pessoal que costumamos ter medo, associamos a vândalos e a renegados sociais. Os tags que estes fazem, são muitas das vezes usados para marcar território e comunicar, mas há que ver que isto não pode ser considerado arte e não tem qualquer tipo de mensagem política ou social útil para quem por eles passa diariamente. Um TAG é diferente de um STENCIL com motivos políticos e intervencionistas, vejam as imagens abaixo, é caso para dizer que não se pode comparar um gato pelado com a pantera cor-de-rosa.

Imagem 1 (esquerda): TAG, artista desconhecido, Mensagem:??,Objectivo:??
Imagem 2 (direita): STENCIL, artista: Banksy
Mensagem: apelo ao fim da violência em manifestações
Objectivo: Sensibilizar as pessoas que passam por esta imagem
Street art: faz-se na rua, vê-se na rua
Compreendo que para muitas pessoas seja desagradável e difícil lidar com os grafittis e stencils, não só porque estéticamente muitas vezes não têm qualidade, como também porque são feitos em locais como moradias privadas ou edifícios públicos. São "desagradáveis à vista" porque na maioria das vezes a mensagem não apela a mais ninguém sem ser a quem os fez. Portanto, para que servem os tags? E a quem servem? Pois, servem a quem os faz e para comunicar com quem a eles está ligado.
Falando ainda de grafittis e stencils, estes dois estilos são inseridos na categoria de STREET ART, ou seja, arte que é realizada e exposta na rua, que por conseguinte, é pública por algum motivo: passar a mensagem às massas, e que local melhor do que a rua para passar uma mensagem que chegue ao maior número de pessoas possível? Qual é o objectivo de fazer um stencil com motivos políticos anti-guerra, pintado nas paredes do nosso "quintal grande"?
Perante o crescente número de guerras e conflitos, especialmente no médio-oriente, é natural que muitos artistas sintam a necessidade de se expressar de uma forma mais pública, pois um stencil é mais permanente do que uma manifestação na rua, e cada um de nós deve tentar apelar aos outros e exprimir os nossos ideais como melhor sabe.
Muitos artistas partilham idealogias semelhantes, seja o anti-consumismo, o comunismo, a paz, igualdade de oportunidades ou os direitos humanos, porém, alguns artistas são fracos em idealogias e primam pelo vandalismo e danificação de propriedade pública por despeito ou por divertimento. Há que saber diferenciá-los e saber reconhecer o valor de cada um deles, quer estes o tenham ou não.
Penso que uma questão muito importante, é a escassez de paredes autorizadas em que os artistas possam apresentar o seu trabalho, e esta escassez é real. O governo afirma que existem paredes autorizadas, porém não existem em número suficiente, talvez pela dificuldade que há em assumir e aceitar o grafitti como uma forma de arte, ou talvez por se sentir ameaçado pelas mensagens subliminares ou mesmo directas que nele possam ser expressadas. Chamo então a atenção para as mensagens pacifistas anti-guerra, e para as mensagens anti-consumismo e anti-capitalismo, e para o facto de que muitos dos stencils realizados por Banksy possam não ser do agrado do governo do reino unido, por contrariar os princípios pelos quais este se rege, como por exemplo, o descarado luxo e extravagância no modo de vida da familia real, enquanto uma grande fatia social da população inglesa vive no limiar da pobreza.
Alguns Factos

O grafitti não é algo de novo na sociedade, e existe desde o tempo de civilizações como a Grécia antiga ou o império Romano. Esta forma de expressão artística sofreu mudanças ao longo do tempo até evoluir para o que é considerado o "grafitti moderno". Mas algo manteve-se sempre imutável: o facto de esta forma de arte poder ser usada para comunicar mensagens políticas e sociais. É tambem importante alertar para o facto que o grafitti BEM FEITO é considerado uma forma de arte moderna nos dias de hoje, sendo possível vê-los em galerias por todo o mundo.
Muitos críticos de arte começaram a atribuir valor artístico a ALGUNS grafittis e a reconhecê-los como uma forma de arte pública, livre de custos e acessível a qualquer pessoa. De acordo com muitos investigadores, este tipo de arte pública, é de facto uma ferramenta eficaz de emancipação social e como meio de antigir determinados objectivos políticos. Os murais em Belfast e em Los Angeles oferecem outro exemplo de reconhecimento oficial do grafitti "bem feito" enquanto forma de arte. Em época de maior conflito, estes murais ofereceram um meio de comunicação e de expressão para os membros de comunidades socialmente ou racialmente divididas, tendo também provado o seu valor como ferramenta eficaz no estabelecimento de um diálogo ponderado entre lados. O Muro de Berlim também foi extensamente coberto de grafittis que reflectiam a pressão social e o desagrado em relação ao governo em vigor.

Mirko Reisser (2005). Obra exposta em galeria alemã.

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