14/01/09

(Ir)reparável

Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
E que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
seja linda ainda que triste
E que a pessoa que amo seja pra sempre amada
mesmo que distante
Porque metade de mim é partida,
mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que falo não sejam ouvidas como prece
nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.

Que a minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que mereço
E que a tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso,
mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita no meu rosto
um doce sorriso que me lembro de ter em criança
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
e a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo,
mas a outra metade é cansaço.

Que a arte me aponte uma resposta
mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar,
porque é preciso simplicidade para a fazer florescer
Porque metade de mim é plateia
mas a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
porque metade de mim é amor
e a outra metade
também

Sem comentários: