13/05/08

This modern love breaks me







Saio do café em passo lento, apesar de estar calor levo o casaco posto com a t-shirt verde do trabalho a espreitar pela gola. A noite está quente e não se vê ninguém na rua, penso que horas serão. O meu impulso é olhar para o relógio mas apenas encontro o pulso despido, procuro o telemóvel e não o encontro, ficou fechado no café. Que se lixe penso, devem ser umas 3.30h da manha, quem é que me vai ligar? Ando cada vez mais devagar, ando invulgarmente cansada e abatida, tal qual adolescente descoordenada, ombro esquerdo sufocado pelo peso do portátil, ombro direito sufocado pela enorme mala cheia de material para o qual ultimamente nem tenho olhado. Olho a volta e aprecio o barulho da água na fonte do rato, à espera de ver as tão verídicas chinchilas (não é assim que se escreve eu sei) que a minha colega tão veemente afirma ver a saltitar por ali de vez em quando. Deverei dizer-lhe que talvez serão ratazanas ou atrever-me-ei a destruir a sua ilusão de que existem roedores mexicanos exóticos à solta na Covilhã? Passo pela universidade, não posso deixar de me lembrar que tenho aulas às 10h mas a tentação de ir apanhar um bocadinho de internet é maior e acabo por me sentar em frente à biblioteca. Ponho os auscultadores, apetece-me ouvir cocorosie. Deparo-me com uma mensagem que preferia não ter visto, “ estou na merda, perdi o rumo na vida, preciso de ti”. Não respondo. Não sei o que dizer. A preguiça consome-me, sei que devia trabalhar um pouco mas acabo a vaguear por sites de livros. Não consigo deixar de pensar nos problemas dos últimos tempos que se começam a amontoar tal qual as folhas das árvores no parque. Sim, são assim tantos. Uns abafam os outros, desaparecem brevemente mas logo vem o vento e põe-nos a descoberto de novo, realçando constantemente a sua existência. Penso se será possível viver sozinha, sem ninguém, sem conflitos, sem problemas. Assim não haveria problemas. Não consigo deixar de me rir um pouco ao lembrar-me do personagem de Lúcia no filme Lucia y el sexo, afirmando repetidamente “Voy a vivir sola” enquanto caminha freneticamente pela praia, para a frente e para trás, numa tentativa desesperada de afirmar a sua convicção. Vivir sola? Impossível, todos precisamos de pessoas, mas imaginem que bom seria viver sem mentiras, sem tolerar merdas de ninguém. Tenho quase 24 anos e sei que não sei muito da vida, pois se soubesse, não estaria constantemente a sofrer desilusões, pois poderia anteve-las antes de chegarem. À medida que as nossas prioridades se alteram, vamos dando mais importância a umas coisas do que a outras, e pouco a pouco, os duros picos da realidade vão-se instalando sem darmos por isso. Um dia acordamos e apercebemo-nos que nos tornámos frios e que aquela faceta infantil que antes preenchia uma grande parte da minha personalidade, está subtilmente a desaparecer. Inocência. Confiança. Pureza. Já não as tenho. Culpa minha? Duvido. Não compreendo porque existem pessoas que se dão ao trabalho de minar e boicotar a vida dos outros sem qualquer problema de consciência. Aliás, há quem já o faça naturalmente, como se fosse algo biológico, algo que não conseguem evitar. Recordo-me de no outro dia ter visto uma publicidade a uma reportagem na Tvi e esta frase ficou-me na cabeça: “se não és minha, não és de mais ninguém”. Assim como há homens que são capazes de tudo para ficarem com quem querem, também há mulheres capazes de passar por cima de tudo e de todos para ficarem com o que querem, ou com quem querem, mesmo que essa pessoa já não lhes pertença. Começa a chover e baixo de novo a terra. Hesito por instantes, vou ou fico? A chuva não é assim tão forte. Pensado melhor, acho que vou, o computador não é impermeável, nem a minha franja (pensamento de gaja). Apresso-me rua acima e quase morro de susto quando um carro cheio de bimbos passa por mim a alta velocidade, buzindando e grunhindo algo obsceno que preferi não me dar ao trabalho de decifrar. Chego a casa e mal entro no prédio, o cheiro a pão e bolos intoxica-me de imediato. Privilégios de viver por cima da padaria. Se bem que o aquecimento de borla e o cheiro aconhegante ao forno da avó apenas me vale quando é inverno, porque nos últimos tempos, apenas o associo a acordar suada a meio da noite e a pesadelos com cheiro a canela. Podia jurar que no outro dia acordei a meio da noite, e ao olhar os meus pés despidos, vi as tiras do palmier de chocolate, demolhadas em chocolate nas pontinhas, onde as unhas deveriam estar. Devo estar a ficar choné. Abro a janela do quarto. La fora a lua está bem alta, bem cheia e cor de laranja. Consigo vê-la da cama, isto sempre me reconfortou. No computador toca blocparty, ao tempo que não ouvia isto, mesmo assim lembro-me sempre de alguém que não vejo há muito tempo. Olho para a parede cheia de desenhos e colagens. Já me apetece desenhar de novo. Pego na colecção na qual é suposto inspirar-me para fazer outra colecção e folheio-a demoradamente. Paneleiro, bicha, aberração, estranho. Digam o que disserem, para mim John Galliano é sinónimo de Génio. Escolhi a sua colecção para a Christian Dior, (do Outono-Inverno de 2001/2002, caso queiram cuscar) para reinterpretar criativamente, fazer um painel abstracto sobre a mesma, e com base nisso, criar a minha própria colecção, inspirada nessa mesma, mas ao mesmo tempo diferente. Parece fácil? Nem um pouco. Mas balanço final, saí-me melhor do que esperava. Sinto que aprendi e evoluí muito, e apenas posso sentir pena por ter passado tantos anos da minha vida a fazer tudo menos isto. É este momento que conta. E não as mentiras e mexericos, não os problemas de merda e pseudo-conflitos. É este momento, agora. Olhar para o meu trabalho e sentir que não mudava uma linha, sentir que tudo aquilo sou eu e que não poderia fazê-lo de outra forma. Sentir-me feliz pelos elogios, em vez de me sentir triste pelas facadas dos outros. Que se fodam. Uma amiga há tempos disse-me, “as pessoas só têm a importância que lhes damos” (frase de gaja, eu sei, mas tão verdadeira que é impossível de não pensar nela), pois só importa quem eu quero. O resto que vá com os porcos. Levanto-me e começo a procura do meu frasquinho das bolas de sabão, ao tempo que não o vejo. Encontro-o dentro de uma caixa de sapatos. Deito-me na cama, vou fazendo bolas de sabão com cheirinho a fairy limão, o sono já pesa e o corpo também, olho para as bolas a pairar no ar enquanto se aproximam da lua. Adormeço. Nessa noite não sonhei com bolos de canela nem com palmiers de chocolate. Sonhei que era muito pequenina, leve que nem um smartie (ou um conguito, porque não?). Flutuava numa bola enorme com cheirinho a fairy, até a lua, num passeio demorado e agradável. Longe de todos, ao som de cocorosie. Sola, solamente sola.

5 comentários:

Anarquista Duval disse...

Confusion in her eyes that says it all, she's lost control
And she's clinging to the nearest passer by, she's lost control
And she gave away the secrets of her past and said "I've lost control again"
And of a voice that told her when and where to act
She said "I've lost control again".

And she turned to me and took me by the hand and said
"I've lost control again"
And how I'll never know just why or understand she said
"I've lost control again"
And she screamed out, kicking on her side and said
"I've lost control again"
And seized up on the floor, I thought she'd die
She said "I've lost control"
She's lost control again, she's lost control.

Well I had to phone her friend to state her case and say
"she's lost control again"
And she showed up all the errors and mistakes and said
"I've lost control again"
But she expressed herself in many different ways until
she lost control again
And walked upon the edge of no escape and laughed "I've lost control".
She's lost control again, she's lost control.

Joy Division

lagarto disse...

olha olha!a menina está de volta!!!;p

Anarquista Duval disse...

Vai dando notícias rapariga, nem que sejam notícias camufladas em textos como este... Ainda há pessoas que se preocupam contigo e que ainda torcem por ti.
Beijos L.

poca disse...

muito bom este texto.. muito bom mesmo..

Anónimo disse...

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